NUNCA VAI SER BOM O SUFICIENTE
Seu trabalho nunca vai ser bom o suficiente. Acredite em mim. Se você quer a perfeição, nem tente, pois ela não existe. Por mais que você se esforce, vire noite trabalhando, por mais que faça o impossível acontecer, sempre vai existir alguém para te criticar, apontar defeito, dizer que você não resolveu o problema dele.
Você quer ajudar essa pessoa? Sério, nem tente. Ela tem que querer se ajudar primeiro. Ver problema nas coisas é, antes de algo externo, um reflexo de algo que acontece no interior de cada um. Você também deve ter aquele amigo ou amiga crítico de plantão, não tem? Que coloca defeito em tudo, toda hora criticando, explicando, complicando, e raramente apontando soluções viáveis. Aponta o defeito, critica quem fez, mas não sabe fazer melhor.
Ah, e se você ficou desconfortável lendo isso, provavelmente você é essa pessoa.
Críticos de plantão existem e estão por todo lugar. Eu já fui um deles. “Até que esse celular é bom, mas não tem aquele joguinho que eu gosto”, “Você joga bem futebol, mas não sabe fazer gol bonito”, “De que adianta ser bonita se é chata?” são algumas das reclamações que devo ter feito. Isso sem contar todos preconceitos xenofóbicos, raciais, corporais, religiosos e tantos outros que aprendi quando criança.
Me lembro uma vez em Porto Alegre, eu estava voltando para casa de noite, dentro da lotação, aquele barulho estridente de ar condicionado antigo, tudo sacolejando, o ambiente perfeito para as reclamações brotarem nos meus pensamentos… mas sei lá, eu estava cansado, acho que tinha feito um treino de natação depois da aula da faculdade, e as luzes da cidade estavam tão bonitas… não sei o que aconteceu, só sei que naquele momento eu decidi sorrir ao invés de reclamar, afinal eu não poderia mudar as coisas como estavam, então decidi só curtir a vista.
Foi nessa hora que entendi que o problema não tá fora, tá dentro. Mas calma, perceber isso é só o primeiro passo, mudar um padrão de pensamento (da reclamação para a apreciação) pode levar dias ou anos, dependendo de quão fundo esse padrão está enraizado em você. E para mudar, precisa querer. Para querer, precisa entender o quão bom é mudar. E - aceite que é mais fácil - tem gente que não quer mudar, que só quer reclamar. É mais rápido, dá menos trabalho. E, para essas pessoas, os críticos de plantão (ou haters), você nunca vai ser bom o suficiente.
E sabe o que é pior? As críticas entram na gente. Quer ver? Tente se lembrar de uma crítica que você recebeu - sobre seu trabalho, seu corpo, suas escolhas. Quantas você lembrou? Uma, duas, dez? Elas ficam, né? Essa energia densa, pesada, negativa… ela entra em nós, vai direto nas nossas raízes e se instala por lá. Tirar as críticas de lá dá um trabalho danado. Precisa de muita atenção, um mergulho profundo em si.
Agora vamos fazer outro teste: busque se lembrar de elogios que você já recebeu: sobre seu trabalho, seu corpo suas escolhas. Quantos você lembrou? Um, dois, dez? Talvez por serem mais leves, sutis, positivos, os elogios nos escapam das mãos. Ou talvez por não termos sido ensinados a guardá-los direito, a memorizar com detalhe aquela frase, aquele brilho no olho de quem foi diretamente impactado pelo nosso trabalho ou pelo nosso exemplo.
E é por essas pessoas, pelas que sabem reconhecer, que vale a pena trabalhar. É por elas que eu escrevo. Ah, e importante dizer que uma dessas pessoas não é bem uma pessoa: é a sua criança interior, que está aí em algum lugar, dentro de você. Eu boto fé que ela é a maior incentivadora das suas grandes escolhas, além de ser a responsável por todas ideias criativas que você já teve. É principalmente por ela que eu escrevo. Não para agradá-la, e sim para dar espaço para que ela brinque, porque escrever é um trabalho criativo.
Então, voltando ao ponto (adoro tangenciar o tema, olhando pela tangente dá para ter outro ponto de vista), seu trabalho ou você nunca vão ser perfeitos. Como diz o Eduardo Marinho, o que existe é aperfeiçoamento. Acredito no olhar atento aos detalhes, no cuidado, no ritual. Acredito nas pessoas que estão dispostas a mudar. Boto fé na criança interior.
Se você for se embasar pelos haters é melhor nem tentar. Então, quando for tentar realizar aquele sonho, compartilhe primeiro com quem você sabe que tem um olhar apreciativo sobre você. Com quem te incentiva. Pode nunca ser bom o suficiente, mas vai ter valido a pena. Eu boto fé em você.
PS: e com certeza esse texto não está bom o suficiente. Haters, amo vocês: sei que são o sinal de que estou no caminho certo.