O VENDEDOR DE PEDRAS

Juliano Poeta
2 min readAug 28, 2020

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Eu só queria brincar.

Juntos com meus primos e prima, achamos na rua detrás da casa de praia dos meus avós um terreno com restos de construção. Lá estava nossa mina de diversão.

Subíamos caminhando meio desajeitados por cima dos entulhos, à procura de pedras especiais. Era especialmente legal porque o que procurávamos não dava para ver, estava dentro das pedras.

Com as mãos nuas catávamos as que pareciam mais apetitosas , e então chegava a parte mais legal: ver o que escondiam. Com um martelo e sem supervisão de adultos nós quebrávamos todas pedras ao meio e em incontáveis pedacinhos.

A maioria era oca: só pedra. Mas algumas eram recheadas de cores e brilhos. Um brilho não tão aparente, que você precisava se esforçar um pouco para ver, mas que estava lá. Procurávamos pedras que representavam a nós mesmos.

nós

Então a diversão continuava com as vendas. No quintal da rua de paralelepípedos os adutos montavam para gente uma banquinha, com direito a placa “Vende-se pedras semi-preciosas”, com a tinta escorrendo das letras, e tinha até uma mesa lateral com um copo de água para o vendedor mirim.

vai uma pedra aí?

O preço era em média $1 real por pedra, mas dependia das cores e do brilho.
O lucro ia, claro, para mais diversão: gibis da Turma da Mônica, que eu lia sempre que ia no banheiro.

Eu só queria brincar. Com amigos, pedras, martelos e uma banquinha na rua.

Eu vendia pedras, e era feliz.

PS: escrevi esse texto durante uma oficina com a Ana Paula Santos, guardiã do amor no @savethelove

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Juliano Poeta
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